A primavera que agora começou traz consigo o desabrochar da flor e o cantar dos pássaros. Os dias ficam mais longos, mais quentes e a vida parece que recomeça. É nesta altura que mais sentimos quanto é bom estar vivo. A primavera representa o começo ou início do ciclo da vida, é como a flor da juventude. Se formos à origem da palavra «primavera», ela revela-se como a «primeira verdade». De acordo com a teoria dos cinco movimentos, primavera corresponde à madeira. Esta teoria diz respeito às fases de transformação pela qual passam todos os fenómenos da natureza. Os cinco elementos são a madeira, fogo, terra, metal e água. Neste artigo, vamos apenas analisar a madeira e a forma como ele se expressa na natureza e no ser humano. Madeira simboliza a transformação de energia em matéria, que na primavera se manifesta na criação de novas formas de vida, no aparecimento da flor. As plantas exemplificam bem esta particularidade da madeira, pois elas estão constantemente a transformar energia em matéria, através da fotossíntese. Uma das características desta fase é a firmeza e a flexibilidade. As árvores são o melhor exemplo: elas crescem flexivelmente em direção ao céu, em busca de luz, adaptando-se às circunstâncias, ao mesmo tempo que as suas raízes se mantêm firmes, no lugar. Se olharmos para as árvores durante uma tempestade, vemos que no topo oscilam os seus ramos, de modo ágil para não partirem, enquanto em baixo, no tronco principal, mantêm-se imóveis, constantes. A primavera é uma boa altura para darmos seguimentos aos nossos projetos. Assim também é no ser humano: novas ideias dizem respeito ao elemento madeira. Novas ideias que nos surgem e que desafiam a nossa capacidade de crescimento, mudança e flexibilidade, espelham a qualidade desta energia em nós. De forma salutar, ao mesmo tempo que devemos ser flexíveis e abertos a novas perspectivas e ideias, também é bom sabermos trilhar o nosso caminho com determinação, firmes nas nossas convicções. Durante este período do ano há um gradual aumento de energia, após o inverno, em que a energia se encontrava latente. Durante o inverno, as energias descansavam e germinavam para dar agora lugar à explosão de vida. Aproveitando o sentido ascendente da energia, é altura de passar da teoria à prática. Aquelas ideias que têm vindo a «brotar» na sua mente, quer seja um novo negócio, a criação de um site, um investimento, a compra de uma nova casa, etc, é agora que deve dar os primeiros passos, planeando e dirigindo as suas energias para os objetivos que se propõe alcançar. Deve aproveitar os meses seguintes, pois é neste momento que a criatividade está mais aguçada pela força da madeira. A madeira expressa-se também como visão e direção, tornando-nos focados num objetivo. É curioso notar que a saúde dos nossos olhos dependem da energia do fígado. Problemas deste órgão manifestam-se habitualmente com problemas de visão. No corpo humano, a madeira manifesta-se através do fígado e da vesícula biliar.O fígado, entre muitas outras funções na medicina chinesa, é responsável pela livre circulação de energia, assegurando-se que as nossas emoções e energias se adaptam às constantes mudanças que enfrentamos. Se ficar disfuncional, vai-se manifestar como mau humor, raiva ou dor. Ficamos irritáveis quando não conseguimos colocar as nossas ideias em prática, ou somos confrontados com mudanças que não queremos fazer. Reagimos quando o nosso sentido de Ser é comprometido ao sermos mal tratados, negligenciados, ou quando nos sentimos frustrados. Isto, porque a madeira é o elemento que suporta a individualidade e o ego. No desenvolvimento da personalidade, é este elemento que nos ajuda a manter integridade, ao mesmo tempo que nos questionamos acerca daquilo que somos e acreditamos, expressando, uma vez mais, qualidades de firmeza e flexibilidade. Os meridianos de energia do fígado e da vesícula biliar percorrem as laterais (interior e exterior) do corpo humano, evidenciando, novamente, os seus papéis de decisão (para que lado virar?) e escolhas a tomar no nosso caminho de vida. A circulação de energia nestes meridianos pode estar equilibrada, em deficiência ou em excesso. Sinais gerais de deficiência da energia madeira:
Sintomas mais comuns de excesso de madeira:
Existem muitas outras características do movimento madeira e, principalmente, do fígado e da vesícula biliar, associadas à medicina chinesa, de que falarei futuramente em outro artigo. Artigos relacionados: Tao, Yin Yang e os 5 Moviementos
1 Comment
Os antigos filósofos taoístas alcançaram um profundo conhecimento da vida através da observação da natureza. Eles constataram, inclusive, que tudo o que se passa ao nível do ser humano é um reflexo do que se desenrola na natureza. Portanto, o Homem é visto como um microcosmo dentro de um macrocosmo universal. Segundo o taoísmo, do nada surgiu o “Tao”, que ainda não é nada porque ainda não existe senão como energia em potência de se manifestar. É o “1”, o «eterno», o indiferenciado. Daqui pode-se concluir que a energia é neutra na sua origem. A dualidade do Yin Yang Do Tao, ou energia em potência, surge o Yin e Yang, os dois princípios da dualidade como branco e preto, dia e noite, masculino e feminino, bom e mau etc. Neste ponto, a energia adquire um polaridade e aparece uma dinâmica que vai criar o movimento da vida. É nesta dialética na qual evoluimos, enquanto seres vivos, na nossa jornada pessoal. Esta mesma dinâmica é sempre relativa, uma vez que, por exemplo, o vermelho é uma cor escura em relação ao amarelo, mas clara em relação ao preto. Este tipo de análise poderia ser estendida a tudo quanto existe, pois os opostos são sempre complementares, duas faces da mesma moeda. Nenhum fenómeno pode ser visto como absoluto. O símbolo Taiji, mais conhecido por Yin Yang, é um círculo dividido em dois e representa a dualidade. Yang é a parte branca com ponto negro, Yin a parte negra com ponto branco. Ambas as partes se interconectam, misturando-se uma na outra, fazendo que uma desapareça à medida que a outra avança. Os pontos branco e preto significam que nenhuma parte é inteiramente yang nem inteiramente yin, pois o yang contém em si também yin em potência, e vice-versa. De um momento para o outro, cada um deles pode tornar-se no seu oposto. A teoria dos cinco movimentos Além desta dinâmica do Yin e do Yang, os antigos filósofos observarm que a vida e os fenómenos que nos rodeiam eram compostos por ciclos. Concluiram que em cada um destes ciclos, existiam cinco fases distintas, a que chamaram cinco elementos. Talvez seja preferível chamar-lhe cinco movimentos, porque elemento dá uma ideia de algo que é estático e isolado. Estes cinco movimentos, ou cinco fases, não poderão nunca ser analisados de forma isolada, mas sim como parte de um todo, o “Tao”. Existe sempre este dinamismo, este inter-relacionamento entre tudo o que existe no universo. Os cinco movimentos da energia são: madeira, fogo, terra, metal e água. Eles representam as fases de transformação da energia que acontece em todos os fenómenos da natureza. São metáforas que ajudam a perceber como os opostos interagem e como é alcançado o equilíbrio dinâmico no mundo que nos rodeia. É um equilíbrio frágil, pois sujeito a permanente mudança. Os cinco movimentos correspondem também às estações do ano: Madeira – Primavera Fogo – Verão Terra – período de transição, entre estações Metal – Outono Água – Inverno. Em termos de dinâmica da energia, constatamos na natureza que: Na primavera, existe um um aumento da energia, é o crescimento (as árvores enchem-se de folhas, as amendoeiras em flor) No verão, a energia está no máximo e é abundante Fim do verão (entre estações), a energia encontra-se em equilíbrio, entre a expansão e contração No outono, assistimos à queda da energia (e queda da folha) No inverno, a energia atingiu o seu mínimo (árvores sem folha), está latente, adormecida (hibernação). Também, no ciclo de vida do ser-humano, observamos estas fases: A água (inverno), corresponde à concepção e nascimento A madeira (primavera), diz respeito ao crescimento, desenvolvimento, à infância O fogo (verão), equivale à adolescência e ínicio da fase adulta Terra (entre-estações), tem a ver com a idade adulta, maturidade O metal (outono) é a meia-idade A água (inverno), a velhice e a morte E completa-se o ciclo da vida. O mais fascinante na visão taoísta do universo é que as suas teorias poderão ser aplicadas a todo o tipo de fenómenos desde o ciclo de vida, os ciclos económicos, construção de um edifício, etc, porque tudo está sempre em constante mudança, podendo, portanto, ser analisado à luz destas ideias. Artigos relacionados: A Primavera e o Elemento Madeira O sete passos para uma respiração consciente. Exercício prático para alcançar a tranquilidade e foco mental. Se observarmos o modo como os bebés respiram, podemos constatar que a sua respiração provém mais dos músculos do abdómen e não tanto da caixa torácica, como na maioria dos adultos. As suas barriguinhas expandem na inspiração e contraem na expiração, de uma forma muito natural. Mais tarde, à medida que vamos crescendo, perdemos este maneira simples de respirar. A boa notícia é que ainda vamos a tempo de nos reconciliarmos com o nosso corpo e voltar a integrar a respiração abdominal ou diafragmática. Os benefícios de uma respiração profunda são assinaláveis:
Passemos, então, à prática da respiração consciente: 1- Sente-se, confortavelmente, com a coluna direita e os pés bem assentes no chão. Comece por percorrer todo o corpo com a sua atenção, fazendo um «scan» desde o topo da cabeça até aos pés. Sinta o corpo a ficar mais pesado, relaxado, e imagine que toda a tensão existente se vai derretendo em direção ao chão. Deixe que toda a tensão acumulada ao longo do dia saia pelos pés em direção à terra. 2- Coloque ambas as mãos sobre a zona do umbigo. Permita que elas descansem muito levemente na barriga, como uma borboleta pousa numa flor. 3- Na inalação, pouse a sua atenção no abdómen e sinta-o expandir-se à medida que o ar entra pelas narinas. Na expiração, deixe que a barriga volte à sua posição inicial. De preferência, deixe que o ar entre e saia pelo nariz, não pela boca. 4- Tudo deve acontecer de uma forma natural, sem esforço. Não force a entrada de ar para além de 70% da sua capacidade. Desta forma, assegura-se que mantém o relaxamento necessário durante todo o processo. 5- É importante ter a noção que a força muscular para inspirar deve partir do diafragma e não dos músculos abdominais. É bom ter conhecimento disto, mas não se pretende que se concentre neste movimento. Para ganhar consciência deste movimento, pode experimentar, durante algumas respirações, colocar ambas as mãos sobre as costelas inferiores e prestar atenção ao movimento das costelas e do diafragma. Faça isto só até se habituar a utilizar o diafragma, depois volte a colocar as mãos sobre a barriga. 6- Mantenha uma atitude passiva, de observação, durante todo o processo. O ideal, nesta fase inicial, é que uma respiração completa tenha pelo menos seis segundos de duração. Três na inalação mais três na expiração. Caso o seu seu ritmo seja mais rápido, não se preocupe, pois com a prática a respiração vai ficando cada vez mais longa e profunda. O importante mesmo é relaxar e observar. 7- Sempre que lhe vierem pensamentos à cabeça, deixe-os ir embora e regresse à respiração consciente. É natural que a sua mente começe a vaguear, tente não ficar incomodado com isso nem achar que não consegue. É como se cada pensamento fosse uma nuvem, sempre que ela aparecer, permita que passe, mas não a siga com a atenção. Com o tempo, as nuvens vão se dissipar e o céu ficará mais limpo. Para ter uma ideia mais clara de como é efetuada a respiração veja o seguinte vídeo. Permita e aceite que tudo aconteça. A atitude ideal é a de não-esforço. Pratique por etapas. Os quatro primeiros passos são os mais importantes, se conseguir praticar diariamente durante cinco a dez minutos já conseguirá sentir os benefícios de uma respiração consciente.
>>> Visite a seguinte página (clique aqui) para saber mais sobre esta e outras práticas de desenvolvimento da energia que pode aprender em aulas particulares de Chi Kung. Artigos relacionados: Respirar é o Melhor Remédio! Se tivesse que lhe dar apenas um conselho ou exercício prático para melhorar a sua saúde e bem-estar diria, sem hesitar, para melhorar a forma como respira. Na verdade, para a maioria das pessoas, diria mesmo para re-aprender a respirar. Observe os bebés e aprenda com os pequenos, pois eles, por terem vindo ao mundo há tão pouco tempo, ainda mantêm uma forma natural de respirar. Pelo contrário, a maioria de nós desaprendeu logo após sair desse «estado de graça» que é a infância. Porquê, ainda não sei bem, mas desconfio…a vida vai-se complicando e a mente começa a ocupar um lugar demasiado predominante na nossa vida. Deixámos de estar simplesmente presentes no nosso corpo e a estarmos onde a nossa cabeça nos leva, de pensamento em pensamento, para prejuízo do nosso bem-estar. Aquele mundo cor-de-rosa da infância desaparece e começamos a habitar um planeta onde o trabalho, as obrigações e os problemas ocupam-nos o dia ao ponto de andarmos sempre, claro, em stress. Se me está a seguir e a acenar com a cabeça em sinal de assentimento, é muito provável, também, que a sua respiração seja curta, superficial e centrada ao nível do peito. Pois bem, esse modo de respirar é a maneira mais rápida de precisar de uma consulta de shiatsu em breve. Na próximo artigo vamos aprender como se respira corretamente. Artigos relacionados: Prática de Respiração Consciente |
Nuno FernandesTerapeuta e `marinheiro´, navegando pelo mar da consciência, ao seu serviço. Arquivo
Fevereiro 2024
CategoriasArtigos recentes |